quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Encanto, decepção, humilhação e culpa – Saga 5

O Coronel secou as lágrimas.
Tentou com todas as forças
Retornar a realidade.
Ele era um Oficial SS.
Eles, judeus, inimigos.
Tinha que planejar tudo.
Era um estrategista.

Mas ficava difícil,
Seu cérebro militarmente treinado,
Não vencia a batalha contra o coração apaixonado.
A cabeça estudava as atitudes a serem tomadas.
O coração só enxergava uma família.
Como este militar queria uma família.
Por anos, sua única família foram seus companheiros de guerra.

Logo fortes batidas interromperam seus pensamentos.
O QG ordenara a retirada de todos os judeus das casas.
Quem não tivesse os papeis seguiria para um destino,
Os cadastrados teriam que obedecer aos preparativos:
Cabelos raspados, tatuagem e desinfecção.



Mal teve tempo de argumentar,
Os soldados levaram sua “esposa”.
Seu “filho” foi poupado, pois o Coronel disse:
“Esta criança não é judia”
Mal os “seqüestradores” viraram a esquina,
O SS correu ao QG,
Queria saber qual o motivo de seu pedido ser desrespeitado.
Nunca tivera um favor não realizado.

Ao ver o Comandante da ocupação
Indagou o motivo de sua empregada ser levada com os outros.
Usou do respeito que detinha perante o exército.
Analisaram os papéis e acharam o erro.
Um equívoco jogara sua amada na lista do trem.
O trem rumo aos campos.

Deixou o menino aos cuidados das enfermeiras.
Correu como louco,
Cada minuto era fatal.
Se não chegasse a tempo,
A linda figura alva,
Teria o mesmo destino de milhares,
Seria levada a um Campo de Concentração
E como muitos,
Nunca mais seria encontrada.



Chegou esbaforido, mas logo acalmou,
Ela ainda estava na fila,
Não havia embarcado,
Pois caso a embarcassem,
Nem ele poderia fazer nada.
Respirou fundo,
Ajeitou a farda,
Enrijeceu a fronte (era conhecido pela frieza)
Passou em revista pela fila de mulheres.
Apontou com desprezo para ela.



Logo dois soldados a retiraram da fila,
E foi levada para outra fila,
A fila dos que seriam cadastrados.
O Oficial parou e olhou as duas filas.
Sentiu algo que nunca sentira,
Decepção.
Estava decepcionado com ele.
Sentia-se um mostro.
Estava decepcionado, pois ele
Fazia parte daquilo.
Ajudara a fazer aquele horror.

Após a bela moça fazer o cadastro,
Foi levada para que lhe cortassem o cabelo.
Ela olhava de forma desesperada para Ele,
Enquanto lhe cortavam de forma violenta
Os belos cabelos negros.
A cada mecha negra caída,
Uma lágrima escorria dos olhos dela.
A cada fio negro azulado no chão,
Uma faca furava o coração do Coronel.



Ele sentia-se impotente.
Nunca se sentira assim...
Era impotente,
Pois diante da tortura aplicada
Ao seu amor,
Pelo bem dos dois, dos três,
Ele deveria manter-se inerte.
Se no mínimo desconfiassem
Da traição que estava acontecendo,
Os três seriam enforcados.


Após ter belos cabelos negros
Raspados de forma grosseira,
Ela foi levada para outra fila.
20799723 este foi o código.
Este número nunca saíra da cabeça Dele.
Este foi o número que tatuaram Nela.
Aquela pele alva, Branca como a neve,
Estava violada pela ignorância de seu povo.
Mais uma vez, sentiu-se decepcionado.
Ao lembrar-se de tudo que já havia feito
Até aquele olhar cruzar com o Dele,
Seu estômago embrulhou.
Decepção e culpa corroíam seu peito.

Nem mesmo recuperada
Das outras torturas sofridas,
Ela teve suas roupas arrancadas
E junto com outras dezenas de mulheres
Foi jogada dentro de um cômodo.
Não media mais do que 3x3.
Ele de fora, remoído de culpa
Viu os soldados abrirem o registro.
Os gritos vindos lá de dentro eram horríveis.
O ouvido do Militar apaixonado pelo inimigo,
Choraram junto com seu coração.



Ao sair daquele terror,
Foi levada em seu carro para casa.
Ele mal conseguia olhar para Ela.
A força que o Oficial fazia
Para que seu remorso não transparecesse
Era pior do que agüentar a dor de um tiro.
Ele não se perdoara.
Pois aquela linda moça,
De pele alva e cabelos negros azulados e de olhar penetrante,
Depois de toda a tortura sofrida,
Estava destruída, parecia um doente terminal.

Ao entrarem em casa
Ele pediu para que ela sentasse,
Num repente, ele se atirou aos pés dela.
Chorando compulsivamente
O antes grande Oficial da SS,
Transformou-se numa criança frágil.
Aos prantos pedia perdão.
Perdão pelo que Ele a fizera passar.
Ela levantou a cabeça do Coronel, molhada em lágrimas.
Com um olhar sereno, fiel e apaixonado,
Ela simplesmente disse:
“Ich liebe dich. "

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Orgulho, desarme e lágrima – Saga 4

O beijo,
Inesquecível.
A traição ao Fuher,
Deixada de lado.
Parece que o coração militar,
Deu lugar ao verdadeiro
O verdadeiro coração do homem.
Existia alma humana dentro daquela farda.



O silêncio,
Divino.
Atrapalhado apenas
Pelo som dos corações.
Era ritmado,
Assim como
As respirações.

Um som apenas
Foi o suficiente para que o militar,
Por instinto e árduo treinamento,
Levantar-se de pronto e sacar sua pistola.
Mas a rigidez do braço do oficial
Foi facilmente dobrada.
A bela moça segurou seu braço.
Sem resistência os músculos relaxaram.
O soldado travou e guardou sua arma.




A mulher apenas olhou para o Coronel.
Aquele olhar calmo e sereno,
Ela não precisava falar,
Os olhos diziam muito.
Ele simplesmente deixava de ser
O temido Coronel Alemão,
Era apenas ele mesmo.
Aquele homem,
Voltava a ser o filho
Dos agricultores de Frankfurt.

Ela levantou-se,
Caminhou até o roupeiro a sua frente e abriu a porta.
Antes daquele olhar,
Nunca deixaria uma pessoa
Virar-lhe as costas,
Ou fazer qualquer movimento estranho.
Quantas vezes os judeus tentaram lhe matar.
Mas ela não.
Ela não lhe trazia qualquer instinto militar.
Com ela, ele sempre estava seguro.
Ele nunca seria atacado.

Quando ela se virou,
Uma surpresa!
Uma criança loira como um anjo.
Estava corada.
Logo ele pensou,
Será que algum dos corpos largados na entrada
Eram de um ex-marido?
Chegou a sentir aquele velho prazer.



Em suas veias,
Sentiu orgulho,
Pois suas tropas mataram
Seu oponente.
De qualquer forma,
Ninguém mais a tiraria dele.
Ele a salvara,
Ela o salvara.



No seu tcheco razoável,
De pronto ele perguntou:
“De quem era a criança?”
A moça, após um sorriso,
De forma serena respondeu
Que não sabia,
A criança fora deixada para sua família
Durante a correria da invasão.

Ele de forma desajeitada,
Pegou a criança no colo.
Estendeu seu braço para vê-la melhor.
Era rosado e loiro como um querubim.
Ao trazê-la para perto,
Para sentir seu cheiro.
Mas uma vez o amor venceu.



O orgulho militar do Coronel,
Mas uma vez foi quebrado.
Aquele querubim tcheco,
Passou seus braços em volta do pescoço do Militar.
Pela primeira vez desde o dia que entrou
Para a academia da SS
O jovem Coronel
Sentiu mais uma vez...
Qual era o sabor de uma lágrima.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O inicio de um momento eterno – Saga 3

Ainda atordoado o Coronel da SS atravessa a rua
Ele olha a invasão com outros olhos,
Percebe os rostos assustados.
Antes se sentia forte e poderoso
Diante daqueles rostos.
Por um tempo, o terror dos “inimigos”
(pois já não os enxergava deste jeito)
Deixava-lhe orgulhoso,
Por vezes, até sentiu prazer.
Hoje o sentimento...
Vergonha.



Adentrou no QG da invasão.
Logo foi atendido pelo comandante responsável.
Tinha uma fama respeitada...
Por onde passou,
Deixou muitas histórias.
Muitas lendas eram contadas,
Mas na maioria verdadeiras.
Era respeitado,
Pois sempre fora bem sucedido.
Nunca fracassou em missão.



Informou que tomara o belo sobrado
Como espólio de guerra.
Informou ainda que fez uma judia prisioneira,
Pois precisaria de alguém,
A casa necessitava de empregada,
Uma mulher que limpasse, cozinhasse
E cuidasse dos outros afazeres domésticos.
O Comandante assentiu todos os requerimentos.
Apenas informou que a judia
Precisava dos papéis
E passar pelos procedimentos padrões.
Tatuar o número, cortar os cabelos e higienização.



Após breve comprimento,
O Coronel, em passos apressados,
Retorna ao “seu” sobrado.
Estranha o fato de apenas um soldado
Estar de guarda na porta.
Tinha deixado dois.
Mal percebeu a saudação do vigia
Pois entrou na casa velozmente.
Escutou os gritos.
Subiu as escadas.
Mal tocou os degraus.
Quando adentrou o quarto,
O soldado estava batendo na moça.
Aquela criatura alva,
Com cabelos negros
E olhar hipnotizante.

Agarrou o agressor.
Com uma força
Que nem sabia que possuía.
Arremessou o soldado contra a parede.
Indagou de forma severa
O que ele fazia ali.
O soldado respondeu que apenas estava
Mostrando a judia o que a raça dela merecia.
O Alto Oficial desconversou e ameaçou o soldado.
A corte marcial pela desobediência.

Ao ouvir o SS repreendendo de forma severa o soldado.
A bela moça alva atirou-se aos pés do Oficial.
Agradecia sorrindo entre as lágrimas.
O soldado percebendo
O que estava acontecendo,
Ameaçou o coronel.
Iria levar a denúncia de traição,
O Füher adoraria saber
Que seu queridinho oficial
Estava defendendo os judeus.

Antes que o delator
Pudesse se defender
O oficial disparou 3 tiros.
Dois no peito.
Um certeiro na cabeça.
Olhou a moça assustada.
Mandou que ela ficasse encolhida no canto.
Gritou pelo outro soldado
Que já havia adentrado na casa.
Os tiros chamaram sua atenção.



Mandou que retirasse o corpo ensangüentado.
E apenas disse que o Alto Comando
Designara-lhe o poder de
Julgar e executar.
O morto seria um traidor
Que estava beijando a judia.
Informou ainda que na moça
Ele aplicaria o castigo merecido,
Pois se insinuara para um alemão.

Esperou o soldado sair com o corpo.
Após a certeza de estarem sozinhos,
De forma doce e sensível
Explicou a criatura alva
Que ela não se preocupasse mais.
Ele havia garantido que ela estaria livre.
Informou ainda que ela ficaria ali.
Ali no sobrado que era de sua família,
Sobre sua proteção.

Num rompante
De forma apaixonada e agradecida
Ela o beijou.
Ele se assustou e rapidamente
Afastou a bela moça.
Mas ao ver o rosto dela assustado
Com o gesto.
Ele não conseguiu pensar.
Puxou-a para perto dele.



O beijo dado na moça,
Com toda certeza...
Era a prova de que um olhar,
A beleza de uma alma,
Podem mudar a mais negra das almas.
O beijo
O início de uma história eterna.