quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Amor, Família e Embuste – Saga 5

Tudo havia mudado radicalmente no coração militar.
Um novo e desconhecido,
Até então,
Amor brotara em seu coração.
Uma criança,
Agora tida como sua,
Fazia as tardes daquele frio Coronel SS
Tenras e divertidas.



Os sentimentos antes misturados,
Feito uma massa disforme em seu peito,
Após bem trabalhados,
Tornou-se algo lindo e cheio de vida,
Assim como os Apfelstrude de Cololônia.
O sentimento era embriagante
Como as weinzenbier da Baviera.

Tornaram-se uma linda família.
Ele saia todos os dias para sua função.
Ela cuidava da casa,
Ensinava alemão ao pequeno,
Com a mesma paciência e amor
Com o qual o Nazista a ensinava.
A cena era, mesmo diária,
Emocionante para ele.
A bela jovem com a criança no colo
Ambos lendo em alemão.
Ambos riam das pronúncias estranhas
Ficam engraçadas ditas por aquela bocas delicadas.

Para que pudessem sair e aproveitar o Sol
Saiam para fazer piqueniques,
O embuste era que sairiam para caçar.
A empregada carregaria os apetrechos.
O órfão servia para buscar alguma caça atingida.
Mas saberem estarem sozinhos,
Logo estendiam a toalha, arrumavam os quitutes.
E o menino corria livre, como um pássaro solto no ar.
Eles liam, se olhavam por uma eternidade.
Vez ou outra trocavam um tímido beijo.
Eram momentos mágicos.
Pinturas jamais colocadas numa tela.
Era a expressão do amor.
A paixão adulta, a paixão fraterna,
A paixão dos corações perdoados.



Mas nem tudo eram rosas.
Por sua posição de importância,
Muitas vezes, deveria recepcionar seus “companheiros”.
O belo sobrado do Oficial SS enchia-se de outros oficiais.
A bebida cara e farta.
A música alta e sem hora para silenciar.
Gargalhadas, histórias de batalhas.
Gargalhadas, histórias de Campos de Concentração.
Gargalhadas, jovens Tchecas prostituidas,
Usadas ao bel prazer daqueles velhos homens.



Infelizmente não tiveram a mesma sorte...
Pensava o Coronel.
Nem todas puderam ser ao mínimo respeitadas.
Mas não era isso que mais o chateava.
Nestas festas, Ele deveria voltar a ser frio,
Deveria se portar como os outros.
Tinha que trata-la com desprezo e grosseria.

Ela era uma Judia suja.
Ele, um Oficial Alemão condecorado.
Rezava internamente.
Orava pelo fim daquelas noites.
Clamava pelo fim daquela maldita guerra.
Asseverava poder ser feliz.
Queria o fim do embuste.
Queria voltar com sua família para casa.
Queria mostrar a todos o quão feliz estava.



Mas o mais impressionante, o que mais o atraia
É que apesar de todos os insultos,
Todas as barbáries ditas a Ela aquela noite,
Apesar de tudo que Ela foi obrigada a presenciar,
Ela em momento algum o desprezava,
Em momento algum ela o fitava com raiva,
Pelo contrário, ela o fitava com ternura,
As vezes com pena,
Pois ela conseguia ver sua alma,
Sabia que aquilo tudo torturava mais Ele,
O homem frio e destemido,
Do que a Ela,
A frágil figura alva e desprotegida.