segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O que só ela viu - Saga 3 (Adendo da Bela)

Senti um medo absurdo, para todos os lados em que olhava, gritos e correria na cidade em que nasci. Só encontrava o pavor, pessoas inocentes eram arrancadas de casa e jogadas na mão daqueles homens nervosos. Eram torturadas e sem nenhuma perspectiva de futuro, esperavam apenas que a morte as levasse...
Eu não queria sentir a mesma dor, invadiram minha casa, levaram minha família, destruíram minhas roupas, mas não me encontraram. Durante muito tempo minha “covardia” me assolou, deixei que os levassem, imaginei o olhar de desespero em seus olhos.




Lembro de ter tapado os lábios de um bebê, nem sei por quanto tempo ficamos escondidos, sem alimentação, desidratados... Uma eternidade.
Me movi com todo cuidado para não fazer barulho, cheguei à cozinha deserta, ainda tinham restos largados por todo lado, não havia tempo para limpar nada, precisava me esconder e alimentar o bebê, eu já havia perdido tudo, para onde levaram meus pais? Será que os veria novamente?
Peguei um pão, voltei para meu esconderijo, alimentei o bebê, peguei-o nos braços e nos aconchegamos um no outro. Ouvi novas batidas na porta, eles voltaram... Nossa hora chegou. Eram mais invasores, fiz o máximo de silêncio, nem respirávamos tudo para que não nos ouvissem, dessa vez não eram muitos, o que não diminuiu nosso medo.
Os passos avançavam lentamente pela escadaria, abriam e fechavam as portas brutalmente, me senti perdida, certamente nos encontrariam e eu nada poderia fazer para proteger o bebê, as lágrimas deslizavam livres pelo meu rosto e nada mais faria sentido.
Sai do guarda-roupas, deixei o bebe e me encolhi num canto e pensei: “Que me levem... Deus vai cuidar deste neném, pois seu filho Jesus era o protetor de todos os inocentes”.
A porta foi violentamente aberta... Um homem alto entrou. Tinha um rosto frio... Mas não era como os outros soldados... Tinha um ar imponente e pelos broches percebi ser alguém importante.




Os olhos que me fitaram não eram os mesmos que levaram meus pais, neles senti uma mistura de orgulho e bondade, alemães não tinham bondade dentro de si. Levaram meus pais, usurparam minha casa, eu era uma prisioneira dentro de algo que um dia fora meu lar.
Ele veio em minha direção, eu estava apavorada, sua mão... Rezei minha alma, pois minha hora havia chegado. Mas não. Ele tocou meu ombro e falou algo. Quase não entendi, pois tinha um sotaque acentuado. Mas diferente de todos os alemães que vi, este tinha algo diferente no olhar.
Por alguns segundos olhei e nunca esquecerei aquele olhar. Não consigo tirar da minha memória quando ele me deu um chocolate. Estava ainda nervosa e ele não parava de me olhar. Estava hipnotizada.
Som de mais passos e gritos pela casa vazia. Não sabia no que pensar... Ele era o inimigo... Eles sequestraram minha cidade e levaram minha família. Mas aquele homem não era igual, ele me passou segurança. Num ato desesperado me joguei aos seus pés e pedi que não deixasse que me levassem.
Neste momento ele tocou minha boca. Nunca nenhum homem havia feito aquilo. Atordoada e sem entender o que ele falava apenas obedeci o gesto que ele fez. Obedeci, pois meu instinto sabia que era algo bom.
Quando ele virou-se para trás e desceu as escadas com habilidade, eu rezei para que não fosse a última vez que eu o veria. Só lembro de ouvir ele repetir severamente: - Ninguém! Ninguém aqui! Levaram todos!




Respirei fundo. Confusa, apavorada, amedrontada. Em poucos minutos ouvi passos lentos e largos em direção ao esconderijo, enrijeci! Foi quando o vi prostrado em minha frente novamente. Seus olhos continuavam confusos, suas mãos tocaram minha face ainda molhada, meus batimentos aos poucos normalizavam, até hoje não sei como pude entender o seu idioma. Lembro-me que ele disse: “Não tenha medo de mim pequena”. Foi tudo o que eu entendi aquele alemão falar: “Não tenha medo de mim pequena!”

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Aquele pequeno momento eterno – Saga 2


Os olhares se cruzaram.
O instinto militar o fez engatilhar sua Luger.
Mas aquele olhar...
Aquele olhar desarmaria qualquer tropa,
Por maior e mais poderoso que fosse o exército.

Tentou falar com ela,
Sabia algumas palavras em tcheco.
Neste momento percebeu a importância das aulas
Nas academias da SS.
“Calma, não vou te fazer mal”.
Tirou um chocolate de seu bolso
Aquela moça não estava com um rosto corado...
Há quanto tempo sem comer? – pensou o Coronel.



Aquele olhar...
Antes amedrontado, agora estava sereno.
Ele olhava enquanto ela comia aquela barra doce.
Engraçado, pois ela guardou um pedaço.
Por qual motivo, pensou ele...
Deve ser para comer mais depois.

Então ele ficou ali,
Apenas admirando,
Olhando o corpo frágil e alvo.
Ela já estava relaxando aos pouco.
Percebeu que ela já tinha alguma confiança nele
Mas um barulho de passos pesados vieram do térreo.

Ela atirou-se e agarrou as pernas no Coronel...
Ele não era fluente na língua,
Ainda mais falada com terror e sem cadência alguma.
Ele só entendeu:
“Não... Me levar... Não!”

Ele agachou-se e colocou sua mão na boca dela...
O silêncio era imperioso no momento.
Sentiu a leveza de seus lábios.
Shhhhhhhh!
Apontou para um canto atrás da escrivaninha.
“Não saia daí!”

Ele sabia o que o destino guardava
Para os capturados.
Por muitas vezes ele participou da captura.
Os nomes passaram por sua mente:
Auschwitz, Treblinka, Sobibor,
Belzec, Chelmno e Maidanek.
Não importava o nome...
Seria horrível.
Por um momento sentiu remorso do que já fizera...
Vergonha de seus atos.



Olhou mais uma vez para a figura alva e delicada.
Sentiu seu coração mudar de ritmo.
Sua cabeça ficou vazia.
O único pensamento era de uma voz repetindo:
“Seja honrado, serás recompensado,
“Última chance”.
Por uma força que não era dele,
Repetiu mais uma vez para ela:
“Fique aqui. Em silêncio!”
Ela obedeceu, encolheu-se,
Ficou quase invisível.



Rapidamente o Oficial da SS levantou-se.
Enquanto caminhava para a porta,
Olhou para trás...
Mediu rapidamente os atos e as conseqüências...
Ele sabia que teria uma chance,
E não poderia falhar.
Chegou a pensar que passou 10 anos na academia em Berlim...
Poderia perder tudo por uma moça.
Chegou a pensar em desistir.
Mas olhou mais uma vez aquela beleza “invisível”
Não podia.

De frente para o corredor
Já conseguiu avistar os soldados.
Logo deu a ordem.
“Já revistei tudo. Quero que fiquem de guarda na porta...
Ninguém entra nesta casa, ela é minha!”
Deixou os homens no lado de fora da casa.
As sentinelas não moviam um músculo.



Atravessou a rua em direção ao QG da ocupação.
Iria requerer a casa e os pertences.
Já tinha tudo planejado.
Não se imaginava mais viver sem
Aquele olhar...

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A história de duas almas - Saga

Setembro, algo perto de 1940, antiga Tchecoslováquia.
Cidade Praga...
O pacto de Munique entrega a capital ao Führer...
A cidade das “Cem Cúpulas”, estava submissa...
A Alemanha marcha soberana pelas ruas.



Ele veio, o Coronel das tropas.
Foi chamado para “organizar” a nova conquista,
Foi chamado, pois nunca falhara.
Foi chamado, pois foi bem sucedido em Lidice.
A vingança em nome de Hitler
Vingança pelo amigo Heidrych,
O “Açougueiro de Praga”

Ao entrar na cidade, ele olhou as casas...
Muitas.
Todas intactas.
Ali não ocorreram batalhas.
Foram entregues.

Queria escolher a melhor como pousada.
Chegou a pensar:
Sem graça, pois sem dor, sem vitória merecida.
Mirou uma na esquina...
Pensou, esta seria a sua.
O sobrado era perfeito, era seu sonho,
Desde antes entrar no exército.
Chegou a pensar:
Meus pais se orgulhariam do que conquistei...
Orgulhar-se-iam de onde cheguei.

Ele adentrou para conhecer sua nova morada...
Muitos móveis.
Na maioria de bom gosto e bem colocados.
Esta será minha casa!
Foi o que pensou.

Subiu as escadas,
Viu as 4 portas num corredor...
Chegou a pensar: “estes judeus tem bom gosto”.
Mas logo apagou o pensamento...
Traição, nem em pensamento.



Abriu porta por porta...
Queria ver sua pilhagem.
Percebeu que quem vivia ali era uma família abastada.
Estava feliz,
Conquistou um reino e ainda pegou o melhor para morar.

Mas o destino prega peças...
Na terceira porta, ele olhou um quarto lindo...
Um lugar angelical...
O ar que vinha de dentro do cômodo
Era angelical!

Adentrou com violência, chutando a porta,
Sentira o cheiro de perfume,
Algum maldito judeu ainda estava ali dentro...
Passou seus olhos pelas 4 paredes...
Não viu nada.
Passou mais uma vez...
Eis que, muito encolhida num canto,
Ele viu uma figura alva...
Alva e tremula...

Sacou de sua pistola.
Passos lentos, aproximação...
Quando sua mão, menos tremula, alcançou o objetivo,
O ser, indefeso, virou seu rosto...



Os olhos se encontraram...
O ser alvo e de cabelos negros,
Sem qualquer defesa,
Sem qualquer reação,
Deixou os seus olhos cruzarem com os dele...

Estes olhos mudariam a vida dele.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

E dizem que nós mulheres é que somos complicadas... By Bela

Olá meninos e meninas, fiquei um tempo sem postar por aqui e estava morrendo de saudades, decidi escrever algo cômico mas com muito sentimento. Espero que gostem e que dêem muitas risadas...

Depois nós é que somos complicada:

Se passarmos o dia abraçando e beijando o namorado,
Reclamam que somos grudentas.
Se não o fazemos é porque o amor acabou
E deixamos a relação esfriar...



Se o acariciamos em meio à madrugada e o acordamos,
Somos as insensíveis chatas que não os deixam dormir.
Se pegamos no sono, somos a geladeira frost- free...
Se ligamos, só pra ouvir sua voz,
Reclamam que atrapalhamos a reunião de trabalho,
Se não ligamos,
Deduzem que tivemos algo mais importante para fazer...
Que acabamos por esquecê-lo...

Homem é bicho complicado...
Querem que adivinhemos o que estão pensando
Sem nos dar ao menos uma dica,
Reclamam que passamos tempo demais no cabeleireiro
Enquanto passam o domingo de folga em frente à TV
Assistindo futebol.

Este tempo deveria ser usado para manutenção do relacionamento.
Defendem a mãe e culpam a sogra.
Ou vice- versa,
Fazem só pra ter o prazer de nos contrariar.



Pedem um tempo
Depois mandam mensagens...
SMS dizendo estar sentindo saudades...
E nós suspiramos de felicidade...
Reclamam do beijo de língua,
Mas não desgrudam os lábios do seu
Enquanto fazem amor.

Te chama de cafona
Sempre que você expressa seu gosto musical,
Mas adora saber que a letra de cada música
Faz com que você, lembre e deseje estar com ele.
Espera ansioso pelo fim de semana juntos,
Pra te chamar de chata
E reclamar da bagunça que você fez na vida dele...

Prefere recusar o chocolate que você humildemente oferece,
Um pedaço só,
Pra poder comentar com os amigos
Que você detonou a barra inteira sozinha
E que o pior de tudo é que foi ele quem comprou...
(Isso é meio que fato hehehehehe).

Ainda digo que homem é bicho complicado,
Mas digo também que já não vivo longe do que amo,
Mesmo quando as vezes ele pega no meu pé
Sem razão,
Discute sem motivo...
Esquece a data de aniversário de namoro...



Eu o amo na sua complexidade
E nem me vejo mais sem esse amor todo...
Fica aqui meu desabafo feminista!!!


Nem vou comentar... acredito que o correto, é eu ficar aqui apenas lendo... usando meu direito constitucional de ficar calado... só aqui lendo este escrito da minha Bela.